A experiência do segundo confinamento
- Ana Monteiro
- 24 de fev. de 2021
- 3 min de leitura

Possivelmente está a sentir diferenças neste confinamento. E acredite que não está sozinho nesse sentir. A realidade é que quando o iniciamos já havia de antemão uma experiência, já sabíamos os cantos à casa, já havíamos vivido meses a fio com a liberdade condicionada, que no medo e receio nos uniu e fortaleceu. Em Junho quando nos foi dada alguma dessa liberdade, não hesitamos em aproveita-la com toda a emoção e entrega. Respiramos de alívio e achamos que tinha passado. Mas o passado deixou marcas. Neste novo fechar de portas ficamos expostos às sequelas do primeiro e como em todas as experiências traumáticas quando passamos pela segunda condensamos as emoções não trabalhadas da primeira, e as que naturalmente emergem da repetição. É portanto como um despir de todas as capas protectoras e ficar exposto, a todas as emoções de estar novamente fechado bem como a todos os problemas com os quais temos como estratégia o evitamento. Não há a correria assumida na rotina do dia-a-dia que nos permite distanciar o pensamento do que mais nos incomoda, daquilo que sabemos não estar resolvido mas para o qual ainda não reunimos tempo, disponibilidade e recursos para enfrentar. Algum problema antigo pode estar agora agudizado e experienciar um maior desconforto sempre que o seu pensamento o transporta até lá.
Note a diferença dos contactos que fez neste confinamento. Possivelmente reduziu a mais de metade as comunicações comparativamente com o primeiro; também já deve ter sentido que neste momento as pessoas não lhe parecem tão solidárias. De facto, se no ano passado as emoções aproximavam-nos pela necessidade de pertença a um grupo e de reconhecimento no outro do nosso sentir; hoje a dor é silenciosa, potencialmente distanciadora e de maior impacto.
A solidariedade visível no primeiro confinamento deu lugar a uma atitude individualista e de distanciamento. É o resultado da resignação de alguns (e atenção ao sentimento de desesperança que poderá ser avassalador) ou de aceitação e espera.
Ainda assim nesta espera cabe o cansaço, o receio do futuro e a ânsia de liberdade. O pouco e o simples de outrora nunca foi tão valioso e importante como agora. A simples impossibilidade de se viver fora de 4 quatro paredes provoca emoções que alguns de nós nunca tinham vivenciado e neste sentido é importante que perceba que esta fase é uma situação limite. Aquela que nos põe à prova na nossa resiliência, na capacidade de diariamente nos reinventarmos na montanha russa de sentimentos a que estamos sujeitos.
Por fim gostava, por um lado, lhe relembrar que a sintomatologia psicológica em confinamento é exacerbada; tenha atenção e identifique sinais de alarme como perturbações do sono, perturbações alimentares e solidão. E por outro, lhe dizer que se os seus sintomas são ligeiros, toleráveis e decorrentes do confinamento então eles serão passageiros. Viva o momento presente, lembre-se que nada é eterno e terá um fim em breve. Mantenha-se positivo e pouco exigente consigo mesmo.
Lembre-se dos amigos e familiares dos quais não tem tido notícias, faça uma chamada, envie uma mensagem, force se necessário a comunicação e se for caso disso agilize uma rede de apoio. Muitos estão sós e a sua ajuda poderá ser o elo que mantem a ligação à realidade, ao presente e uma verdadeira ajuda no afastamento de pensamentos perturbadores e incontroláveis.
Nesta altura, proponho-lhe que encare este tempo com a certeza de que dele se fará história e de que nele se auto superou reencontrando-se no labirinto de emoções pelo qual passou!






Comentários