A propósito da Infância

É muito frequente, ao longo do processo psicoterapêutico, haver necessidade de explorar algumas vivências da infância. Há experiências, por vezes pouco conscientes que têm um papel decisivo nas atitudes e decisões em vida adulta. O trabalho em consulta passa por aceitar, ressignificar e criar uma narrativa apropriada à versão que pretende de si enquanto adulto. Por exemplo, a baixa auto-estima e o auto-conceito negativo estão frequentemente enraizados na infância e podem até estar associados a um episódio específico. Ressalvo apenas que em todo o caso não foi o que lhe disseram ou fizeram mas sim a forma como o percepcionou e acolheu em si. Assim, há um trabalho extremamente exigente que se inicia nesta experiência. Recorde-se do número de anos que o levaram até este funcionamento psicológico; a mudança causa desconforto e leva o seu tempo. Na consulta psicológica não existem milagres mas se abraçar o processo com a abertura e disponibilidade necessária no final poderá parecer magia, mas o mérito será todo seu!

Um outro exemplo, é ter sentido que a sua infância foi marcada por episódios muito dolorosos e que não houve espaço a essa validação. Aqui poderia ser interessante reconhecer na sua criança interior ferida todo esse sofrimento e permitir-se sará-la. Este processo envolve uma série de insights que são potenciados pelas consultas. No fundo a consulta permite-lhe um bom ponto de partida para ao longo da semana se reflectir e sentir.

Note que a tendência natural é a de afastar este tipo de pensamento, enraizados em experiências da infância, porque na realidade eles causam desconforto mas o segredo é expô-los e explorá-los ao ponto da transmutação, aquilo que lhe causava medo e instabilidade e que recusava visitar e reviver passa a ser um lugar seguro de desenvolvimento, como uma alavanca que lhe permite sentir o controlo dos seus sentimentos, e poder de escolha na forma como experiencia e reage às situações desafiantes, no presente.