Lágrimas emocionais
- Ana Monteiro
- 9 de nov. de 2022
- 2 min de leitura

Podemos classificar as lágrimas como basais, reflexivas ou emocionais.
As lágrimas emocionais têm algo de encantador. Na minha perspectiva simbolizam a sensibilidade humana. A lágrima reflete sempre um contexto muito específico, é a impressão orgânica da circunstância emocional que vivemos. Se nos fosse possível analisar todas as nossas lágrimas veríamos que a sua composição é sempre diferente. Não é maravilhoso?
Uma das funções do choro é obter suporte emocional. O bebé chora para ser acudido nas suas necessidades. Da mesma forma, num episódio de choro, se percepcionarmos que quem está à nossa volta nos apoia e compreende, sentimos que fomos acolhidos e cuidados sendo o balanço positivo. Por outro lado, se não percepcionarmos a empatia do outro, então o desconforto aumenta e surge a necessidade imediata de reprimir o choro.
Em consulta percebo que as lágrimas nem sempre são bem-vindas. O que me sugere que a construção social que fazemos do choro é de vulnerabilidade, fragilidade e/ou imaturidade. Quantas vezes ouvimos familiares ou nós próprios dizemos às crianças, ‘pronto, já passou, não chores mais?’; o mesmo será dizer-lhes ‘limpa-te, recompõem-te, não é suposto chorares e demonstrares emoção!’; preferimos sempre uma construção reveladora de uma suposta maior maturidade.
A análise química da lágrima emocional revela-nos, por exemplo, que existe cortisol na sua constituição, e, portanto, permite-nos perceber que chorar estabiliza a concentração desta hormona que está envolvida na resposta ao stress. Também sabemos que chorar permite a libertação de encefalina leucina que funciona como um analgésico natural comparável à morfina e com similar efeito de prazer. Todo este processo permite ao nosso corpo voltar ao equilíbrio homeostático. Faz sentido recusar este processo orgânico que tanto nos pode auxiliar? O nosso corpo é sempre sábio e as lágrimas são, na verdade, uma compensação que o nosso organismo encontra para nos reconfortar.
Chorar é terapêutico!
Frequentemente inibimos esta necessidade, mesmo quando estamos sozinhos… não o devemos fazer. Devemos aceitar que é um processo fisiológico que surge como resposta a determinados sentimentos e/ou estados emocionais.
Por outro lado, algumas pessoas têm uma enorme dificuldade em chorar. Nestes casos, é frequente haver um excessivo autocontrolo no processo de descarga afetiva e, portanto, um possível desequilíbrio emocional.
Note que os homens, por circunstâncias hormonais e culturais, choram menos do que as mulheres.
Convido-o a pesquisar a obra “Topografia das Lágrimas”, um trabalho maravilhoso da Rose-Lynn Fisher, no qual podemos ver imagens microscópicas e perceber a diferença entre uma lágrima de alegria e outra de tristeza. No meu consultório tem este livro para consultar.
Pense na lágrima como a impressão que o nosso organismo nos oferece das emoções que vivemos internamente. A lágrima de tristeza é diferente da lágrima da saudade.
Este conhecimento é também útil para nos auxiliar na interpretação do nosso choro. Sabendo que todas as lágrimas são diferentes, da próxima vez que chorar pense que lágrima está a ser gerada: a da tristeza, a da frustração, a da solidão…?
Boas reflexões!

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