O que espera de um relacionamento?
- Ana Monteiro
- 3 de nov. de 2022
- 3 min de leitura

Em consulta assisto muitas vezes à instabilidade emocional decorrente de relacionamentos percepcionados como inconsistentes, e suportados por partilhas insuficientes.
Repare que uma relação exige comprometimento, investimento e disponibilidade de ambas as partes.
Numa leitura superficial parece uma situação de simples resolução; a percepção de que se pode sair quando se quiser vai protelando no tempo estes relacionamentos. Mas não há a consciência do risco que se corre. Cada dia que passa é um dia em que se abdica do respeito por si próprio e se cede na integra o poder pessoal. E quando se percebe que é tempo de parar e fazer um balanço há um vazio que se apodera de toda e qualquer esperança. Há um padrão emocional que se cristalizou e que lhe tolhe a perspectiva futura de uma vida feliz. Por um lado, anseia viver livre e por outro sente-se dependente daquilo que o companheiro lhe proporcionava, a fantasia de um relacionamento perfeito. Como viveu meses ou anos no treino da desculpabilização do parceiro é agora muito simples o seu pensamento encaminhar-se nesse sentido. Só nesta altura é possível perceber o impacto que a relação teve ao nível do auto-conceito, da auto-estima e dos relacionamentos interpessoais.
Pode começar pela partilha sincera, sem medos. Muitas vezes, o receio de que o outro se canse ou se farta inibe esta abertura que quebra o padrão de comunicação, e que o pode surpreender!
Num segundo momento, opte pelo registo das características pessoais que valorizava em si e perdeu nesta relação. Muitas vezes ouço, “eu era tão divertido/a”. Um pequeno exemplo, mas que lhe permitirá perceber o trabalho que lhe será exigido nesta fase, a sua reconstrução emocional. Antes de se questionar como poderá reencontrar-se, pergunte-se “como permiti que a minha alegria e leveza fossem aprisionadas nesta relação?”. Evite pensar a longo prazo, foque-se no momento presente e na forma como a partir de hoje se quer percepcionar e cuidar. É importante que tome consciência de como deixou de priorizar a sua vida e as suas necessidades na ânsia de assistir à revelação da relação que tanto tempo desejou. É necessário traduzir todas estas emoções em palavras, para que se confronte com a realidade e lhe faça, hoje, mais sentido avançar com a sua vida. Permita-se perceber a forma como não se valorizou e acima de tudo como não se protegeu e se neste novo eu esta relação tem espaço. Deixo-lhe como mote à reflexão algumas questões:
- Que sinais não quis valorizar?
- O que perdi de mim?
Nesta altura gostaria que alterasse o foco da sua atenção. Percebo que seja muito difícil fazê-lo, mas consegue imaginar o que seria canalizar metade que seja, da atenção que direciona ao outro, para si? Possivelmente seria o suficiente para encontrar uma hora diária para cuidar de si de forma consciente e organizada. Seria suficiente para conseguir valorizar todo o esforço que tem feito nos últimos meses. Seria suficiente para se envolver numa energia muito própria de autodescoberta e autoenamoramento. O primeiro passo é reaver a sua auto-estima. Cuide de si, escolha com que palavras e emoções se deseja nutrir e comece hoje mesmo a validar a legitimidade da sua paz. Pode repetir vezes sem conta e sempre que precisar: “Hoje eu sou a minha prioridade. Hoje eu escolho-me!” É possível que sinta alguma estagnação, mas tenha presente que cada dia que opta por si, pela sua estabilidade, é uma vitória da qual tem de se orgulhar.

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