Que emoção reprime?
- Ana Monteiro
- 6 de out. de 2022
- 2 min de leitura

Já fui escrevendo sobre a dificuldade crescente de nos permitirmos sentir. Parece-me que há uma questão prática envolvida. Se nos permitirmos sentir teremos de parar, terá de haver alguma abertura ao sofrimento para que ele se transforme e o resultado se possa revelar em consciência. E parar não se conjuga com o ritmo de vida que insistentemente vivemos. Portanto, sentir obriga a parar sem previsão de quando se estará pronto para voltar ao ritmo anterior e é, portanto, um risco. Devemos dar particular atenção se for esta a questão… porque esta é a nossa vida, a nossa oportunidade. Se não há tempo para sentir apenas sobrevivemos. Não me parece justo que assim seja. Nestas situações, a primeira consulta de psicologia é maravilhosa porque há tempo e lugar para acolher todas as emoções. E esta pequena pausa auxilia-nos a desbloquear esta resistência.
Por outro lado, há uma questão mais profunda. Se nos permitirmos sentir teremos de nos confrontar com tudo aquilo que muito provavelmente a nossa intuição já nos sussurrou – aquilo que nos causa um desconforto considerável, mas que colocamos em suspenso com receio da mudança, do futuro, do desconhecido. E note como é exatamente isso que não nos permite viver em equilíbrio. Por vezes, enterramos a nossa intuição para assim assegurar que não nos iremos auto-desafiar. No entanto o nosso corpo é sábio! E espelha-nos esta nossa resistência. Coração acelerado, respiração ofegante, pressão no peito e sensação de morte iminente. E agora? Vais continuar a ignorar? – pergunta-nos ele. Muitas vezes sim, optamos por tomar um comprimido e retardar o processo. Quando assim é, ainda não é o tempo certo. É tempo do verbo nutrir, cuidar, acolher e abraçar. Provavelmente seria um sofrimento demasiado intenso para o qual ainda não possuímos ferramentas emocionais para nos sentirmos capazes. Nestas situações, uma única consulta de psicologia não será suficiente. Terão de ser algumas para que possamos ‘despir’ as capas protetoras, olhar no espelho e tocar as feridas emocionais que ainda não nos permitimos cuidar.
Não o vou enganar. Terá de abrandar! A vivência das emoções exige que resgate o seu tempo e o seu espaço. Mas prometo-lhe que não se vai arrepender. Comece por respirar fundo, e conversar consigo. Que emoção reprime?
Boas reflexões!

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